Repensar o sentido da Cultura

A primeira evidência ao tentarmos precisar o sentido da palavra “cultura” é a dificuldade inerente a um conceito saturado de significados múltiplos , ele próprio um produto histórico-cultural complexo, que ao ser usado em múltiplas acepções se torna afinal indefinido . Torna-se necessário remontar à etimologia.

Maravilhamento e Realidade

Há um maravilhamento que é nos é trazido de forma mais evidente por determinadas experiências e que nos abre a porta à vivência profunda daquilo que somos. É nesse ficar petrificado, sem palavras ou pensamentos, é nessa imensa suspensão extática onde por vezes somos lançados, que nos encontramos de forma totalmente nua e imprevisível com o nosso verdadeiro rosto. Aquele que na realidade está sempre presente e que corremos apavoradamente a camuflar por ser tão Real.

Quem é o meu próximo?

Interrogado pelos fariseus acerca de “qual o maior mandamento da Lei”, Cristo respondeu “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus, 22, 39). Esta resposta, que cita duas passagens do Deuteronómio (6, 5) e do Levítico (19, 18), determinou a ética do Ocidente cristão, sobrevivendo na versão laica com o segundo mandamento, que impulsionou os movimentos sociais e humanitários dos séculos XIX e XX. Notamos todavia que Cristo não se limitou ao “maior” mandamento e fez questão, não só de indicar um segundo, mas de o assumir como “semelhante” ao primeiro, reduzindo explicitamente a suposta distância entre eles. O que se confirma ao acrescentar que os “dois mandamentos” são o cerne de toda a revelação bíblica.

Sonhar que se voa

‍”Sonhei que era uma borboleta, voando no céu; então despertei. Agora pergunto, sou um homem que sonhou ser uma borboleta ou uma borboleta que sonha ser um homem?”

– Chuang Tzu

A mulher entre Cristo e Buda

Vivemos um ponto de mutação civilizacional no qual, segundo Fritjof Capra, a mais profunda transição consiste no lento mas “inevitável declínio do patriarcado”, com a crescente redescoberta do valor da mulher e do feminino em todos os aspectos da vida. Feminino não é todavia sinónimo de mulher, sendo antes uma polaridade do ser e da consciência que, com o seu complemento masculino, pode ser reconhecida em todo o ser humano, mulher ou homem. Tradicionalmente, contudo, essa polaridade está mais activa nas mulheres.

A mulher entre Cristo e Buda

Vivemos um ponto de mutação civilizacional no qual, segundo Fritjof Capra, a mais profunda transição consiste no lento mas “inevitável declínio do patriarcado”, com a crescente redescoberta do valor da mulher e do feminino em todos os aspectos da vida. Feminino não é todavia sinónimo de mulher, sendo antes uma polaridade do ser e da consciência que, com o seu complemento masculino, pode ser reconhecida em todo o ser humano, mulher ou homem. Tradicionalmente, contudo, essa polaridade está mais activa nas mulheres.

O que há nesta simples folha de papel

Há muitos modos de olhar para as coisas e muitas formas de as ver, que revelam haver nelas muito mais do que a desatenta percepção habitual nos faz supor. Um sábio contemporâneo, Thich Nhat Hanh, mostra-nos que nesta simples folha de papel há a nuvem de onde veio a chuva que irrigou as árvores de onde se fez o papel, bem como a luz do sol que as fez crescer e também o lenhador que as cortou e levou para serem transformadas, assim como o trigo e tudo o mais de onde veio o alimento que nutriu o lenhador. Com a mesma visão, podemos também reconhecer cada um de nós nesta mesma folha de papel, na medida em que ela integra a nossa percepção e é inseparável de cada um dos nossos presentes estados mentais.

A verdadeira causa do nosso mal-estar

Muito para além do que pensou Freud, a verdadeira causa do crescente “mal-estar na civilização” é o vivermos muito aquém da nossa verdadeira natureza e das nossas mais fundas potencialidades internas. É dessa profunda privação, bem como do seu não reconhecimento, que vem o desejo compensatório e compulsivo de prosperar e realizar todo o tipo de desejos no mundo material exterior. É por vivermos muito abaixo das nossas profundas potencialidades espirituais que acabamos por desejar viver muito acima das nossas reais possibilidades materiais, tornando-nos escravos-responsáveis do sistema capitalista de produção e consumo que explora e gere esta nossa vulnerabilidade, com todas as consequências a nível social, económico, ambiental e político que configuram a mais visível crise em que nos encontramos.

Portas abertas

São múltiplas as situações quotidianas em que praticamos a cortesia de segurar uma porta aberta para esperar que os outros cheguem e por ela passem, em vez de a deixarmos fechar atrás de nós e ir em frente, sem olhar para quem venha atrás. E muitas vezes damos a primazia aos outros, ao chegar a uma entrada, abrindo-lhes a porta para que entrem primeiro do que nós. Oferecemos e recebemos vezes sem conta este pequeno gesto de cortesia, sorrimos e sentimo-nos bem com isso.

Entrar na Grande Empatia, na Grande Conversa e na Grande Lucidez

Como diz Thomas Berry, “quebrámos a grande conversa” e assim “despedaçámos o universo”. Estamos apenas a falar connosco próprios, humanos, e cada vez mais virtual, mais dissimulada e menos profundamente. Na verdade, estamos sobretudo a tornar-nos cada vez mais autistas, fechados num monólogo ensurdecedor com os nossos pensamentos, emoções, projectos e preocupações. Essa é a raiz de muitos desastres, com maior evidência para o ecológico, mas com não menor impacto no sentimento de solidão que nos avassala, a sós ou acompanhados.