A verdadeira causa do nosso mal-estar

Muito para além do que pensou Freud, a verdadeira causa do crescente “mal-estar na civilização” é o vivermos muito aquém da nossa verdadeira natureza e das nossas mais fundas potencialidades internas. É dessa profunda privação, bem como do seu não reconhecimento, que vem o desejo compensatório e compulsivo de prosperar e realizar todo o tipo de desejos no mundo material exterior. É por vivermos muito abaixo das nossas profundas potencialidades espirituais que acabamos por desejar viver muito acima das nossas reais possibilidades materiais, tornando-nos escravos-responsáveis do sistema capitalista de produção e consumo que explora e gere esta nossa vulnerabilidade, com todas as consequências a nível social, económico, ambiental e político que configuram a mais visível crise em que nos encontramos.

Portas abertas

São múltiplas as situações quotidianas em que praticamos a cortesia de segurar uma porta aberta para esperar que os outros cheguem e por ela passem, em vez de a deixarmos fechar atrás de nós e ir em frente, sem olhar para quem venha atrás. E muitas vezes damos a primazia aos outros, ao chegar a uma entrada, abrindo-lhes a porta para que entrem primeiro do que nós. Oferecemos e recebemos vezes sem conta este pequeno gesto de cortesia, sorrimos e sentimo-nos bem com isso.

Entrar na Grande Empatia, na Grande Conversa e na Grande Lucidez

Como diz Thomas Berry, “quebrámos a grande conversa” e assim “despedaçámos o universo”. Estamos apenas a falar connosco próprios, humanos, e cada vez mais virtual, mais dissimulada e menos profundamente. Na verdade, estamos sobretudo a tornar-nos cada vez mais autistas, fechados num monólogo ensurdecedor com os nossos pensamentos, emoções, projectos e preocupações. Essa é a raiz de muitos desastres, com maior evidência para o ecológico, mas com não menor impacto no sentimento de solidão que nos avassala, a sós ou acompanhados.

O que é o Amor?

O que é o amor, essa palavra que tão fundo ressoa na mente e no coração humanos e tão intimamente se associa às maiores aspirações, sonhos, gratificações, medos e frustrações da humanidade em todos os tempos? Uma possível etimologia é o indo-europeu “amma”, que designa a expressão da criança que chama pela mãe. Daí pode ter vindo o latino “amare”, que significa “dar carícias de mãe”. Daqui haver quem defenda que “amar” se relaciona com “mamar” ou “amamentar”.

A descoberta e a urgência da meditação

A descoberta da meditação pelos ocidentais – enquanto treino da mente para manter uma atenção calma, clara e contínua, com profundos benefícios psicossomáticos, além do desenvolvimento cognitivo-afectivo – é um fenómeno histórico-cultural e civilizacional dos mais relevantes no final do século XX e no início do século XXI. A par da difusão da prática meditativa na população e das várias experiências de sucesso em escolas, empresas, prisões e hospitais, verifica-se um crescente interesse da comunidade científica pela meditação enquanto fonte de conhecimento acerca da relação mente-cérebro e das possibilidades da consciência, como mostram as experiências realizadas no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e noutros lugares, bem como os encontros Mind and Life, promovidos desde 1987 pelo Mind and Life Institute e onde investigadores de vanguarda, particularmente na área das neurociências, têm dialogado com o Dalai Lama e outros representantes de várias tradições.

Mergulhar nas profundezas do Corpo-Cosmos que somos

Entrar nas profundezas do Corpo-Cosmos que somos através do cultivo de uma prática meditativa e contemplativa somática proporciona-nos uma possibilidade de Encontro surpreendente e memorável ao qual se aspira naturalmente a regressar. Este regresso a uma intimidade pura e preciosa, absolutamente genuína e amorosa e ao mesmo tempo assustadoramente desafiante lança-nos naquilo que se pode sentir como um dos maiores reptos da nossa vida.

Manter a Paixão Viva

Manter a paixão viva na intimidade é uma prática profunda que desafia o casal para quem o despertar da consciência e do coração se torna uma aspiração de vida.

O maravilhamento em que caímos quando nos apaixonamos é uma manifestação da nossa natureza profunda, da nossa bondade essencial, desta vocação natural que temos para amar incondicionalmente e para sentir a luminosidade e a pureza de tudo o que existe.

Intimidade e Manifestação

A relação entre o casal numa via espiritual implica comprometimento profundo, desafio, dor e transformação.

Há turbulência, tormento e inquietação.

Notas para um Manifesto-Movimento pela Cultura

1 – Cultura é mais do que as Letras, as Artes e as Ciências. Cultura é mais do que as culturas, com a sua língua e a sua história, as suas tradições, usos e costumes. Cultura é o cultivo de todas as qualidades naturais que fazem de cada indivíduo um ser humano mais pleno, realizado, consciente, criativo, solidário, bondoso e feliz. Cultura é o cultivo de tudo o que conduz a superar os limites e obstáculos, externos e internos, à tarefa sempre em aberto de humanizar os humanos na relação com toda a comunidade dos seres vivos, os outros seres humanos, os animais e a natureza.

Repensar o sentido da Cultura

A primeira evidência ao tentarmos precisar o sentido da palavra “cultura” é a dificuldade inerente a um conceito saturado de significados múltiplos , ele próprio um produto histórico-cultural complexo, que ao ser usado em múltiplas acepções se torna afinal indefinido . Torna-se necessário remontar à etimologia.